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Elegia

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Elegia por Odilon Esteves.

Um dia, amor, tudo o que existe agora,

Tudo o que forma o nosso grande orgulho,

A pureza e o esplendor de nossas almas,

Terá morrido, sem deixar lembrança,

Na velha terra indiferente aos homens.

Nada do que hoje nos parece eterno

Terá ficado do naufrágio imenso.

Esquecidas de nós, as novas almas

Levantarão para as estrelas mudas

O milagre feliz dos novos sonhos,

Sem talvez meditar que a terra outrora

Vira prodígios e deslumbramentos

Semelhantes aos seus, sob um céu puro.

Uma névoa de pó terá coberto

As cidades vaidosas, onde os homens

Hoje, lutando, desvairados, sofrem.

E apenas raros monumentos tristes

Lembrarão, no candor da branca pedra,

A fronte sacratíssima de um sábio,

De um herói, de um guerreiro, de um poeta,

Que a glória cinja com a divina palma.

Novos deuses, em templos majestosos,

Receberão, no plácido silêncio,

O murmúrio das preces comovidas,

O perfumado fumo das oblatas

E o amor das multidões...

Ah! nesse tempo

Eu terei recebido dos destinos

O bem do esquecimento imperturbável...

Deste homem que hoje sou - das minhas crenças,

Dos meus sonhos de amor, dos meus desejos,

Das minhas ambições mais rutilantes -

Nada mais restará, nada, na terra!

Mas, quem sabe? Talvez, um dia, um homem,

Amigo das pesquisas minuciosas,

Visite longamente as bibliotecas,

Onde durmam os livros seculares,

Que as traças lentas vão destruindo a custo.

E esse homem, cheio de um amor antigo,

Curioso do viver das eras mortas,

Talvez encontre, entre outros livros velhos,

Estes versos que escrevo, e em que minha alma

Fala à tua alma em longas confidências.

E então, meu lindo amor, como evadidos

De um sepulcro, nós dois ressurgiremos

Aos olhos caridosos desse amigo,

Vindos das densas sombras do passado.

Talvez...

Seremos belos!

Nossa fronte,

Há de doirá-la a mesma juventude,

Que hoje nos cerca de um clarão sagrado!

Haverá nos teus lábios esse mesmo

Beijo vibrante que me trazes hoje!

E nos olhos terás o mesmo encanto

Que neles me seduz e prende agora!

Sim: no milagre desse instante ardente,

Nessa ressurreição maravilhosa,

Nós brilharemos juntos, aureolados

De um novo amor e de um carinho novo!

E então esse paciente amigo nosso

Volverá para nós, nos dias de hoje,

Toda a sua saudade religiosa,

E invejará, talvez, piedosamente,

Essa breve, ligeira hora de sonho,

Que hoje os destinos deixam que vivamos...

Autor: Múcio Leão.

Assista este poema narrado pelo Odilon Esteves também no Youtube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=IzW8roQ95Gw

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Um dia, amor, tudo o que existe agora,

Tudo o que forma o nosso grande orgulho,

A pureza e o esplendor de nossas almas,

Terá morrido, sem deixar lembrança,

Na velha terra indiferente aos homens.

Nada do que hoje nos parece eterno

Terá ficado do naufrágio imenso.

Esquecidas de nós, as novas almas

Levantarão para as estrelas mudas

O milagre feliz dos novos sonhos,

Sem talvez meditar que a terra outrora

Vira prodígios e deslumbramentos

Semelhantes aos seus, sob um céu puro.

Uma névoa de pó terá coberto

As cidades vaidosas, onde os homens

Hoje, lutando, desvairados, sofrem.

E apenas raros monumentos tristes

Lembrarão, no candor da branca pedra,

A fronte sacratíssima de um sábio,

De um herói, de um guerreiro, de um poeta,

Que a glória cinja com a divina palma.

Novos deuses, em templos majestosos,

Receberão, no plácido silêncio,

O murmúrio das preces comovidas,

O perfumado fumo das oblatas

E o amor das multidões...

Ah! nesse tempo

Eu terei recebido dos destinos

O bem do esquecimento imperturbável...

Deste homem que hoje sou - das minhas crenças,

Dos meus sonhos de amor, dos meus desejos,

Das minhas ambições mais rutilantes -

Nada mais restará, nada, na terra!

Mas, quem sabe? Talvez, um dia, um homem,

Amigo das pesquisas minuciosas,

Visite longamente as bibliotecas,

Onde durmam os livros seculares,

Que as traças lentas vão destruindo a custo.

E esse homem, cheio de um amor antigo,

Curioso do viver das eras mortas,

Talvez encontre, entre outros livros velhos,

Estes versos que escrevo, e em que minha alma

Fala à tua alma em longas confidências.

E então, meu lindo amor, como evadidos

De um sepulcro, nós dois ressurgiremos

Aos olhos caridosos desse amigo,

Vindos das densas sombras do passado.

Talvez...

Seremos belos!

Nossa fronte,

Há de doirá-la a mesma juventude,

Que hoje nos cerca de um clarão sagrado!

Haverá nos teus lábios esse mesmo

Beijo vibrante que me trazes hoje!

E nos olhos terás o mesmo encanto

Que neles me seduz e prende agora!

Sim: no milagre desse instante ardente,

Nessa ressurreição maravilhosa,

Nós brilharemos juntos, aureolados

De um novo amor e de um carinho novo!

E então esse paciente amigo nosso

Volverá para nós, nos dias de hoje,

Toda a sua saudade religiosa,

E invejará, talvez, piedosamente,

Essa breve, ligeira hora de sonho,

Que hoje os destinos deixam que vivamos...

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