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Conflito e reorganização geopolítica do Médio Oriente marcam 2024

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Após décadas de conflito mais ou menos activo, desde 7 de Outubro de 2023, data em que o Hamas levou a cabo uma série de ataques em Israel onde morreram 1.200 pessoas, que o Médio Oriente está em ebulição, com o conflito a alargar-se em 2024 para o Líbano, assim como o Irão e ainda a Síria.

Vitor Ramon Fernandes, Professor Auxiliar na Universidade Lusíada de Lisboa e professor adjunto da Sciences Po Aix en Provence, fala-nos deste momento de reconfiguração do Médio Oriente.

"2024 é um ano de reorganização e de mudança com contornos ainda pouco conhecidos daquilo que vai ser o panorama, digamos assim, genérico, do Médio Oriente, que já não estava estável, que tinha um conjunto de problemas importantes por resolver e alguns deles, porventura até insolúveis, mas que claramente agora toma uma nova dinâmica com a problemática síria, que ainda tem muita incerteza associada. Portanto, claramente é um ano de viragem e de instabilidade", disse o académico.

A generalização do conflito na região começou no início do ano, quando em Abril Israel atacou a embaixada do Irão em Damasco, matando diplomatas iranianos. Seguiram-se ataques de drones e falhanços sucessivos por parte de Israel para recuperar reféns, com cerca de 100 pessoas ainda estarem detidas pelo Hamas.

Em Setembro, num dos volte-faces mais espetaculares do conflito e já depois de fogo trocado com o Hezbollah no Líbano, Israel fez explodir uma rede de pagers que seriam como sistema de comunicação aos membros do Hezbollah, mostrando que apesar do falhanço para prevenir o ataque de 7 de Outubro de 2023, os serviços de inteligência israelitas continuam a tentar enfraquecer os seus inimigos.

Israel tem também apostado em decapitar estes movimentos, tendo matado em Julho o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, no Irão e alguns meses mais tarde, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah. No entanto, estas mortes não são o fim destes movimentos.

Em Outubro, o Irão lançou um ataque de 200 drones contra Israel de forma a responder à morte do líder do Hezbollah e a uma possível ofensiva terrestre no Líbano. Um momento tenso, em que se chegou a temer uma guerra aberta entre Israel e Irão. Ainda por resolver, está a situação do nuclear iraniano, um ponto de tensão segundo Vitor Ramon Fernandes.

O capítulo mais recente desta transformação do Médio Oriente é o fim do regime de Bachar Al-Assad na Síria, uma consequência indirecta do conflito entre Israel e a Faixa de Gaza. No início do mês de Dezembro, uma ofensiva relâmpago de vários grupos de rebeldes sírios conseguiu acabar em poucos dias com este regime que já durava há mais de cinco décadas. Os sírios vivem agora entre a esperança do fim da ditadura e a apreensão entre os extratos mais moderados da sociedade sobre o futuro do país.

"Tenho uma posição bastante negativa e preocupada sobre a questão da Síria e com aquilo que está a acontecer com a queda do regime de Bashar al-Assad. Nós temos aqui, digamos, alguns vencedores mais evidentes. Eu diria que Israel, a Turquia e, de alguma forma, os Estados Unidos também na linha de frente. A situação veio trazer aqui um enfraquecimento, ou perdedores, que são claramente a Rússia, o Irão e o Hezbollah. Na Síria temos no momento uma situação muito complexa e confusa, porque nós temos basicamente três grandes grupos que são uma coligação que se opôs ao regime de Bashar Al Assad, o Hayat Tahrir al-Sham, que é um grupo basicamente sunita radical, que teve ligações ou que ainda tem Al-Qaida e cujo propósito de alguma forma, é da criação de um Estado Islâmico. Eu sei que o líder da coligação argumenta que se tornou um homem mais moderado, dialogante. Estamos para ver. Temos um segundo grande grupo que são as forças democráticas sírias. Estas forças basicamente são milícias curdas apoiados pelos Estados Unidos, enfim, que querem basicamente militar para a criação do Estado curdo. E temos um terceiro grupo que é e que tem alguma ligação ao PKK, que é um grupo considerado terrorista na Turquia. E temos ainda o Exército Nacional Sírio, que é considerado por muitos sírios como um grupo de bandidosmuito corruptos. Agora dentro destes grupos vão começar a aparecer as divergências dada a sua grande heterogeneidade", indicou o especialista no Médio Oriente.

O ano de 2024 foi repleto de cimeiras e encontros para tentar alcançar o cessar fogo no Médio Oriente, no entanto, nenhuma iniciativa internacional conseguiu travar o avanço de Israel contra a Faixa de Gaza, nem amenizar a resolução do Hamas de continuar a insurgir-se contra a ofensa israelita. Países como o Qatar, mas também os estados Unidos, tentaram agir como mediadores, com as Nações Unidas, nomeadamente o secretário-geral da ONU, a tentar pôr cobro às mortes de inocentes de parte a parte. Fica agora a dúvida sobre como o novo Presidente norte-americano, Donald Trump, vai influenciar este conflito.

Após mais de um ano de conflito, estima-se que já tenham morrido mais de 45 mil palestinianos devido aos ataques de Israel, entre eles, maioritariamente mulheres e crianças. Em Novembro, o Tribunal Penal Internacional emitiu um mandato de prisão contra o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e o antigo ministro da Defesa – entretanto demitido - Yoav Gallant. Também o chefe militar do Hamas, Mohammed Deif, é visado pelo Tribunal Penal Internacional.

Cerca de 645 mil crianças palestinianas perderam o ano lectivo e 86% da população da Faixa de Gaza é agora deslocada, tendo já sido obrigada a mudar várias vezes de local de abrigo. Uma situação "devastadora e dramática", segundo Vitor Ramon Fernandes.

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Vitor Ramon Fernandes, Professor Auxiliar na Universidade Lusíada de Lisboa e professor adjunto da Sciences Po Aix en Provence, fala-nos deste momento de reconfiguração do Médio Oriente.

"2024 é um ano de reorganização e de mudança com contornos ainda pouco conhecidos daquilo que vai ser o panorama, digamos assim, genérico, do Médio Oriente, que já não estava estável, que tinha um conjunto de problemas importantes por resolver e alguns deles, porventura até insolúveis, mas que claramente agora toma uma nova dinâmica com a problemática síria, que ainda tem muita incerteza associada. Portanto, claramente é um ano de viragem e de instabilidade", disse o académico.

A generalização do conflito na região começou no início do ano, quando em Abril Israel atacou a embaixada do Irão em Damasco, matando diplomatas iranianos. Seguiram-se ataques de drones e falhanços sucessivos por parte de Israel para recuperar reféns, com cerca de 100 pessoas ainda estarem detidas pelo Hamas.

Em Setembro, num dos volte-faces mais espetaculares do conflito e já depois de fogo trocado com o Hezbollah no Líbano, Israel fez explodir uma rede de pagers que seriam como sistema de comunicação aos membros do Hezbollah, mostrando que apesar do falhanço para prevenir o ataque de 7 de Outubro de 2023, os serviços de inteligência israelitas continuam a tentar enfraquecer os seus inimigos.

Israel tem também apostado em decapitar estes movimentos, tendo matado em Julho o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, no Irão e alguns meses mais tarde, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah. No entanto, estas mortes não são o fim destes movimentos.

Em Outubro, o Irão lançou um ataque de 200 drones contra Israel de forma a responder à morte do líder do Hezbollah e a uma possível ofensiva terrestre no Líbano. Um momento tenso, em que se chegou a temer uma guerra aberta entre Israel e Irão. Ainda por resolver, está a situação do nuclear iraniano, um ponto de tensão segundo Vitor Ramon Fernandes.

O capítulo mais recente desta transformação do Médio Oriente é o fim do regime de Bachar Al-Assad na Síria, uma consequência indirecta do conflito entre Israel e a Faixa de Gaza. No início do mês de Dezembro, uma ofensiva relâmpago de vários grupos de rebeldes sírios conseguiu acabar em poucos dias com este regime que já durava há mais de cinco décadas. Os sírios vivem agora entre a esperança do fim da ditadura e a apreensão entre os extratos mais moderados da sociedade sobre o futuro do país.

"Tenho uma posição bastante negativa e preocupada sobre a questão da Síria e com aquilo que está a acontecer com a queda do regime de Bashar al-Assad. Nós temos aqui, digamos, alguns vencedores mais evidentes. Eu diria que Israel, a Turquia e, de alguma forma, os Estados Unidos também na linha de frente. A situação veio trazer aqui um enfraquecimento, ou perdedores, que são claramente a Rússia, o Irão e o Hezbollah. Na Síria temos no momento uma situação muito complexa e confusa, porque nós temos basicamente três grandes grupos que são uma coligação que se opôs ao regime de Bashar Al Assad, o Hayat Tahrir al-Sham, que é um grupo basicamente sunita radical, que teve ligações ou que ainda tem Al-Qaida e cujo propósito de alguma forma, é da criação de um Estado Islâmico. Eu sei que o líder da coligação argumenta que se tornou um homem mais moderado, dialogante. Estamos para ver. Temos um segundo grande grupo que são as forças democráticas sírias. Estas forças basicamente são milícias curdas apoiados pelos Estados Unidos, enfim, que querem basicamente militar para a criação do Estado curdo. E temos um terceiro grupo que é e que tem alguma ligação ao PKK, que é um grupo considerado terrorista na Turquia. E temos ainda o Exército Nacional Sírio, que é considerado por muitos sírios como um grupo de bandidosmuito corruptos. Agora dentro destes grupos vão começar a aparecer as divergências dada a sua grande heterogeneidade", indicou o especialista no Médio Oriente.

O ano de 2024 foi repleto de cimeiras e encontros para tentar alcançar o cessar fogo no Médio Oriente, no entanto, nenhuma iniciativa internacional conseguiu travar o avanço de Israel contra a Faixa de Gaza, nem amenizar a resolução do Hamas de continuar a insurgir-se contra a ofensa israelita. Países como o Qatar, mas também os estados Unidos, tentaram agir como mediadores, com as Nações Unidas, nomeadamente o secretário-geral da ONU, a tentar pôr cobro às mortes de inocentes de parte a parte. Fica agora a dúvida sobre como o novo Presidente norte-americano, Donald Trump, vai influenciar este conflito.

Após mais de um ano de conflito, estima-se que já tenham morrido mais de 45 mil palestinianos devido aos ataques de Israel, entre eles, maioritariamente mulheres e crianças. Em Novembro, o Tribunal Penal Internacional emitiu um mandato de prisão contra o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e o antigo ministro da Defesa – entretanto demitido - Yoav Gallant. Também o chefe militar do Hamas, Mohammed Deif, é visado pelo Tribunal Penal Internacional.

Cerca de 645 mil crianças palestinianas perderam o ano lectivo e 86% da população da Faixa de Gaza é agora deslocada, tendo já sido obrigada a mudar várias vezes de local de abrigo. Uma situação "devastadora e dramática", segundo Vitor Ramon Fernandes.

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